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Muita Leitura. Sempre!


Ler, sempre, de preferência nas mais diversas áreas de conhecimento, indubitavelmente é um potente "combustível" para o nosso aprimoramento intelectual. Eis a razão desta seção de publicação de resenhas sobre livros. Ela não deve ficar a cargo apenas dos componentes do Nepet. Ao contrário, deve ser um fórum onde todos possam nos brindar com as mais variadas contribuições através de relatos e informações que emprestem à leitura um forte componente para alimentar as reflexões na educação tecnológica.

(As resenhas são feitas a partir do original que foi lido.)


Admirável Mundo Novo Aldous Huxley. Rio de Janeiro: Globo, 2001, 314 p.

Admirável mundo novo
Aldous Huxley
Rio de Janeiro: Globo, 2001, 314 p.

"Os estudantes aprovaram com um sinal de cabeça, manifestando vigorosamente sua concordância com uma afirmação que nada mais de sessenta e duas mil repetições lhe tinham feito aceitar, não apenas como verdadeira, mas como axiomática, evidente por si mesma, absolutamente indiscutível."

Conhecido em todo mundo por suas ácidas críticas à sociedade e pela visão de um futuro um tanto quanto perturbador, Admirável Mundo Novo cria um futuro onde a sociedade é totalmente pré-condicionada, tanto biológica quanto psicologicamente. Aldous Huxley, autor da obra e escritor inglês, não deixa por desejar. Conhecido por fazer grandes críticas à sociedade da época e também como um visionário, mostra-se terrível quando necessário, mas ao mesmo tempo lógico e condizente, levando o leitor a uma reflexão cada vez maior sobre sua obra e a sociedade.

Apostando num futuro onde a medicina estará suficientemente avançada para que não haja mais doenças e que até as emoções possam ser controladas por remédios, é evidente a tentativa de Huxley em mostrar que até uma sociedade perfeita para os padrões dos que nela vivem é suscetível a falhas, ou seja: uma sociedade perfeita é indescritível, ou melhor ainda, impraticável, paradoxal.

Centenas depois da morte de Henry Ford, os anos são contados como antes e depois de Ford, sendo ele considerado como um deus na nova era. Provavelmente levando em consideração os avanços que Ford proporcionou em sua época, ele fala de uma sociedade tão avançada que é capaz de resolver todos os seus problemas, desde que todos seus integrantes estejam devidamente condicionados a ela. Uma época na qual ninguém é de ninguém, o sexo é livre, as crianças não mais nascem de suas mães (palavra considerada um xingamento), mas sim de fertilização in vitro. A sociedade, desprovida de religião, é divida em castas nas quais o trabalho mais pesado fica para os menos escalados e o trabalho intelectual fica para os que não tiveram álcool adicionado ao seu pseudo-sangue no seu período de fertilização. No entanto não há reclamação de nenhuma casta, pois, como dito, são condicionados a gostarem dos seus trabalhos e respeitarem uns aos outros.

Neste verdadeiro planejamento social, vê-se embutida a construção de um novo modelo de engenharia, que confronta o padrão a que estamos habituados hoje, levando em conta a própria manipulação do mais íntimo do ser humano, o sentimento. Huxley ainda deixa implícita uma nova forma de ver o mundo, através de uma engenharia social, onde a própria ciência é voltada para a estabilidade da civilização. Visto que Ford é o herói, fica evidente que Huxley considerou, em seu tempo, os ideais do empreendedor como sendo inovações que guiariam a uma nova era. Era, esta, na qual o papel do engenheiro desempenha extrema importância, tecendo até mesmo novas áreas de atuação e aprimorando cada vez mais as já existentes.

É evidente que, num sistema tão “perfeito”, o homem teria há muito perdido sua capacidade de razão e de rebelião contra seu condicionamento, mas tudo muda quando um “selvagem” (termo que descreve alguém que não fora pré-condicionado para viver na civilização) é trazido de uma reserva do Novo México para a tão bem civilizada Londres para estudo. Primeiramente causando espanto e depois admiração, Huxley molda o selvagem com características e pensamentos de personagens de um passado remoto e desconhecido àquela época, como Shakespeare.

Mas não para por aí. Huxley mostra que o papel do engenheiro do passado implicou no momento vivido no romance, nos fazendo parar para refletir sobre as verdadeiras implicações da engenharia no contexto social. Não aquela em curto prazo, mas sim a que se desenvolve lentamente, absorvendo aos poucos as consequências de cada ato de desespero da civilização, chegando a um ponto no qual a única solução é retirar completamente a capacidade de razão de toda a população inclusa no sistema. São desses pequenos detalhes que a imprudência do desenvolvimento tecnológico desenfreado cria uma avalanche de problemas não resolvidos e possivelmente sem solução simples em curto prazo, obrigando-nos a submeter-nos a uma mudança radical.

Numa obra prima da ficção inglesa, Huxley consegue confrontar a sociedade atual com uma sociedade paradoxal, ou perfeita, melhor dizendo, criada por ele, mostrando que até o mais organizado sistema está suscetível a erros e que nosso próprio modo de vida é contraditório e hipócrita.

Um livro muito recomendado, que, de um modo geral, faz ácidas críticas à sociedade de um modo extremamente criativo, fazendo a ligação do cientificamente possível ao eticamente viável.

Obs. Esta resenha foi elaborada por Gustavo Hobold, aluno da primeira fase do curso de Engenharia Mecânica da UFSC que, motivado pelas discussões da página do NEPET prestou esta colaboração. O livro também foi lido por alguns elementos do NEPET e este relato de Gustavo espelha com criatividade a importância da obra para uma reflexão interessante no campo CTS.

Walter Antonio Bazzo


A Águia e a Galinha: uma metáfora da condição humana Leonardo Boff. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 206 p.

   

A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana
Leonardo Boff.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 206 p.
 

Na leitura em Boff, de A Águia e a Galinha – uma metáfora da condição humana, não há clara expressividade, em relação à articulação da Ciência e da Tecnologia, com suas implicações sobre a Sociedade – sejamos mais precisos: àquilo que hoje chamamos de CTS.

O filósofo e teólogo expressa com maestria uma analogia com duas aves de características completamente opostas: de um lado, uma ave astuta; doutro, aquela que vive no verdadeiro marasmo e aceitação de sua posição.

A águia, por sua autonomia, capacidade de visão e domínio sobre as demais aves, transparece o comportamento enrustido no ser humano, que nem sempre é aflorado. 

Para alguns poucos seres humanos, suas características são evidentes, e permitem que o homem com esperteza, articule suas atividades com desenvoltura, usando-as por vezes com prepotência, ou na função de ou opressor ao seu meio.

À galinha, ave terrena, de limitadas capacidades de vôo e caça, resta a labuta diária e sem maiores expressividades, intenções ou capacidade de libertar-se do que a ela é destinado: a vida enclausurada num limitado espaço geográfico, sem que vislumbre suas atribuições ao mundo fora do seu reduto. À galinha, não lhe cabe o direito do questionamento, da escolha; à galinha, somente lhe cabe a sensatez de sua vida pacata. É ela quem expressa o papel do oprimido.

Neste contexto, a metáfora atribuída ao homem por Boff, apela a uma revisão de sua conduta. Chama a atenção para o marasmo a que grande parte da população mundial é acometida, por vivermos inertes e sem contestações ao ambiente de pujança de consumo, de governança, de falsas ideologias articulados por poucos que sabem como utilizá-lo ao seu único e exclusivo favor.

Num misto de comportamentos das duas aves, Boff alerta à necessidade do despertar aos desafios da humanidade frente aos agravantes da situação global, em que interagem homens e máquinas, sobrepondo-se a importância dos recursos da segunda sobre o primeiro.

Sem maiores conjugações das habilidades da águia ou da galinha, Boff expressa por meio de parábolas que
o grande desafio atual é criar condições para que emerja o arquétipo da águia. Poderes mundiais têm interesse em manter o ser humano na situação de galinha. Querem apagar de sua consciência a vocação de águia. Por isso a grande maioria da humanidade é homogeneizada nos gostos, nas idéias, no consumo, nos valores, conforme um só tipo de cultura (ocidental), de música (rock), de comida (fast food), de língua (inglês), de modo de produção (mercado capitalista), de desenvolvimento (material).”

Boff intenta aos leitores a necessidade da união dos opostos: ao equilíbrio dinâmico entre a águia e a galinha para que não sejamos nem prepotentes, nem oprimidos pelo poder dos opressores.

 

 

Resenha de Deisi Minella Ferreira


O Mundo Sem Nós Alan Weisman. São Paulo: Planeta, 2007, 382 p.

O mundo sem nós
Alan Weisman
São Paulo: Planeta, 2007,  382 p.
 

Tire-nos da Terra. Quais de nossos rastros permaneceriam? Quais desapareceriam?

Estas indagações já são suficientes para nos levar pela curiosidade e pelo aprendizado de ler este livro realmente instigante. Uma civilização que precisa ser repensada. Uma situação que precisa ser conhecida. O autor nos leva a uma reflexão que não nos apavora, ao contrário, nos faz repensar. A presença do homem já é suficiente para recriar uma natureza que sempre se reciclou. No livro ele diz que nós levamos algumas espécies à extinção, e a natureza sobreviveu. Ele desenha um contexto onde traz essa indagação: Imagine o que aconteceria se, atacados por um vírus, nós desaparecêssemos e todo o resto ficasse intacto, inalterado? Nosso fim deixaria o planeta mais pobre? Seria possível que, em vez de mostrar um enorme sinal biológico de alívio, o mundo sentisse falta de nós? Teria a natureza alguma possibilidade de apagar todos os nossos rastros? Quais seriam as primeiras criações humanas a sumir? E as últimas? São muitas as questões levantadas pelo respeitado jornalista norte-americano Alan Weisman nesta grande investigação científica. No livro, mesmo não se concretizando a catástrofe do vírus, muitos projetos de engenharia estão na “berlinda” por nem sequer imaginarmos sua vida útil. Baseado em que confiamos tanto na infalibilidade de seus materiais utilizados ao bel prazer das intempéries naturais? Weisman faz revelações fascinantes e, ao mesmo tempo perturbadoras sobre o impacto da humanidade no planeta. Por mais que a Terra mostre uma incrível capacidade de se auto-recuperar, muitas de nossas ações foram e são irreversíveis. Mistura de ciência e especulação, o Mundo sem nós será, certamente um clássico. Dentro das leituras que estamos querendo disponibilizar para aqueles que querem entender a inseparável relação entre ciência, tecnologia e sociedade esta, sem dúvida, é esclarecedora.

Numa das “orelhas” do livro, algumas declarações nos instigam ainda mais a procurar desvendar as passagens deste texto:

“Impressionante e quase hipnótico... este é um livro que tem o potencial de transformar pessoas, e com isso realmente fazer a diferença para o planeta” – Charles Wohlforth (autor de The whale and the supercomputer)    “Uma das mais grandiosas experiências do pensamento do nosso tempo, um tremendo exemplo de reportagem criativa” – Bill McKibben (autor de The end of nature)
   “Proporciona-nos um esboço de onde estamos como espécie que é ao mesmo tempo iluminada e aterrorizante” – Barry Lopez (autor de Arctic dreams)

 

Walter Antonio Bazzo


Vida Líquida Zygmunt Bauman. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007, 210 p.

Vida líquida
Zygmunt Bauman
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007, 210 p.
 

Ao contrário da superficialidade que o tema possa sugerir, Vida Líquida é escrito com profundidade a cada linha e em cada parágrafo na imbricada construção dos temas que o constituem.

A efemeridade dos valores individuais, a busca da satisfação imediata, o endeusamento por tudo o que possa refletir a imagem do status quo, a única solidez na vida de uma sociedade liquida que Bauman atribui ser encontrada no lixo, são as propostas de reflexão do autor.

Vida líquida não informa técnicas de melhoria das condições de vida ou de comportamentos, assim como se distancia de qualquer livro que possa indicar caminhos para melhorar a conduta líquida das pessoas nesta vida pós moderna. A obra instiga, sem propor atitudes, “tão somente” o difícil e complexo “olhar de si”.

Na leitura de Vida Líquida, o leitor identifica-se facilmente com os medos e angústias que é o viver sem atualizar-se; o viver sem ter; o ter sem mostrar; o mostrar sem transparecer valor; valor de ser um indivíduo; o indivíduo que não é único; que é indivíduo comum para poder ser social.

Bauman favorece a leitura com um plano de fundo sem cogitar, sem fazer possíveis menções, sem atribuir possibilidades existenciais. É contundente ao generalizar. Esta generalização é o que provoca o encontro de comportamentos sociais aos quais chama de líquidos, com a difícil, mas sabida existência das nossas próprias criações de necessidades para realizações individuais.

Ainda que relutantes, não é difícil encontrar-se com os aspectos líquidos das nossas vidas, mesmo que sabidos, porém indesejáveis de concebê-los como inerentes ao comportamento social de cada um de nós, indivíduos da sociedade efêmera.  

Vida Líquida é, dentre outras obras que trata de temas das vivências em sociedade, mais uma das quais o autor intitula de Líquida. O termo faz alusão à efemeridade da satisfação das necessidades.

   O polonês e sociólogo Zygmunt Bauman nasceu em 1925.

Resenha de Deisi Minella Ferreira


O Vendedor de Tempo. Fernando Trías de Bes. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008, 141 p.

O vendedor de tempo
Fernando Trías de Bes
Rio de Janeiro: BestSeller, 2008, 141 p.
 

Este é um daqueles livros que caem em suas mãos e são “devorados” pela curiosidade de ver onde a lógica genial e provocadora do autor vai chegar. Foi-me emprestado por uma aluna depois de uma aula onde discutíamos a relação entre a ciência, a tecnologia e a sociedade e o que isso causava nos valores que atribuímos a nossas vidas. Confesso que peguei para apenas dar uma espiada no conteúdo. Dois dias depois estava com ele concluído – até porque é uma leitura fácil e que pode ser feita em tempinhos de folga – pela interrupção que assumi dos outros dois que estou lendo em paralelo. Não vou me estender muito sobre seu conteúdo e apenas aguçar a curiosidade daqueles que acham que não tem tempo (T – na forma que o autor utiliza para economizar tempo...) para gozar mais da vida, e por isso transcrevo aqui o que consta da contra capa desta edição:

Nesta fábula satírica, com inteligência implacável e sendo de humor desconcertante, Fernando Trías de Bes mostra que não devemos efetuar um balanço de nossas vidas apenas no fim, como costumam fazer, por exemplo, doentes em estado terminal. O protagonista desta história, formado em contabilidade, sabe que os balanços das empresas são feitos pelo menos uma vez por ano. “Por que com a vida deveria ser diferente?”, pergunta-se. A ousadia do personagem na busca da resposta muda não apenas a sua vida, mas as próprias bases da economia de mercado. Um “pequeno épico” que mudará nossa forma de enxergar a sociedade de consumo e o valor deste bem intangível tão precioso: o tempo.

Neste livro fica bem ressaltada e comprovada a frase devida a Erich Fromm:
“Por que temos de ter indivíduos enfermos para conseguir uma economia saudável?”

Para encerrar e convidar vocês novamente para esta leitura tão atual para nossa época, me reporto a mais uma frase que pode convencê-los a ler e refletir sobre tudo que está no conteúdo deste trabalho:
“O vendedor de tempo é mais que uma história brilhante. É uma sátira esclarecedora sobre o momento que vivemos atualmente”. Philip Kotler

 

Walter A. Bazzo


Diálogos Criativos: Domenico de Masi & Frei Betto Domenico de Masi & Frei Betto. São Paulo: DeLeitura Editora, 2002, 148 p.

Diálogos Criativos:
Domenico de Masi    Frei Betto
José Ernesto Bologna
São Paulo: DeLeitura Editora, 2002, 148 p.
 

A dialogicidade encontrada na obra cuja intermediação é realizada por José Ernesto Bologna, realiza um debate entre duas pessoas cujas vidas, pensamentos, experiências, relações com o trabalho são antagônicos.

Domenico De Masi, um homem laico, sociólogo e intelectual argumenta a tradição européia, em particular a italiana, mas não somente, como fonte de suas observações e critérios na obra transcritos e debatidos. Vê a evolução do mercado e do mundo, numa tendência progressiva mas não progressista. Questiona o progresso e a globalização, pautando as atividades industriais como intrínsecas a um processo de produção em massa, o qual requer pouca criticidade ao sistema. É na contraposição das exigências desta engrenagem (economia x indústria x sociedade), com discernimento do capital x produção, que De Masi pondera em Diálogos Criativos.

Frei Betto, doutro lado, um educador, teólogo e político, do povo; brasileiro. Analisa e traz como pano de fundo para suas posições de uma sociedade mais comum, um aporte ideológico constituído pela mediação entre a fé e a realidade.

Em Diálogos Criativos, há mais do que o encontro caloroso de uma discussão entre o intelectual e o educador, simplesmente. A evolução da obra, além de permitir que o leitor compactue com a posição de um ou outro co-autor, há a inegável contribuição de encontrar o dois-em-um num só livro. O “par” de informações contidas num mesmo livro, é a posição de cada um que, ao ser entrevistado, transcreve seu conhecimento sobre comportamentos, educação, globalização, futuro, história, religião. 

As visões de mundo e do trabalho, da educação e do futuro, relatados em Diálogos Criativos, levam o leitor a perceber que além das diversidades nas opiniões, há uma conversa inteligente e fundamentada, com o princípio da aceitação e argüição das linearidades em particular.

Aos educadores, que ainda não se permitiram a aceitação do construto social em sala de aula ou, dos estudantes cuja linearidade e ideologias não os deixam participar de qualquer conversa que paire o equilíbrio e ponderação de idéias, eis a leitura ideal.

 

Resenha de Deisi Minella Ferreira


A Emoção e a Regra: os grupos criativos na Europa de 1850 a 1950 Domenico de Masi. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999. 419 p.

A Emoção e a Regra: os grupos criativos na Europa
de 1850 a 1950
 Domenico de Masi
Rio de Janeiro: José Olympio, 1999. 419 p.

De que nos serve, afinal, os escritos de De Masi em A Emoção e a Regra?

Dos relatos históricos organizados por De Masi, com profunda extensão a detalhes comportamentais nas instituições onde paira o “espírito Criativo”, o autor não deixa passar a obrigatoriedade das competências profissionais atribuídas à cada processo.

Nos projetos, a astucia dos críticos, dos burgueses, incluindo alguns sem teto, mas não alienados à capacidade produtiva e criativa, deixa clara a existência nos grupos o dinamismo social, repugnando a imediata alusão e amor à técnica (a máquina), a desdém do envolvimento humano com os projetos de criação.

Com forte teor de agressividade e sarcasmo implícitos no trabalho, o autor atribui à criação americana a ordem de totalmente técnica. Esta, sob seu ponto de vista, fomenta uma vida social atrelada à padronização, sem perspectivas diferenciadas de trabalho e sem capacidade criativa. 

Neste modelo de massificação da produção, os tempos e as vidas engrenam-se ao padrão vigente de alavancagem social e econômica do momento: o Fordismo e o Taylorismo. Para satisfação da comunidade americana que vislumbra o progresso, o pensamento da sociedade é projetado ao verdadeiro mundo do consumismo exacerbado, paralelamente às engrenagens produtivas de Ford e Taylor.

A América do Norte estandardiza o pensamento humano como máquina de trabalhar, gerando números auferidos quantitativamente ao invés dos atributos qualitativos a que a Europa, entre 1850 e 1950 faz emergir das atividades que promulgam a ciência e a tecnologia.

Iniciando por Thonet, seguindo em Dorhn, Pasteur, e cientistas hoje destacados como propulsores do pensamento humanístico, todos sublinham características intrínsecas ao modelo criativo da produção, perfazendo a interdisciplinaridade, capacidade de argumentação de todos os membros envolvidos. Há um misto de valores que somam as experiências, gostos e tendências de médicos, engenheiros, professores, pesquisadores da física, química, biologia, artes cênicas. Este puzzle de habilidades “cria” modelos de sucesso que promulgam a ciência partindo de pressupostos positivistas e empiristas.

Numa paráfrase a De Masi, diz-se que seu estudo pretende contribuir para o conhecimento científico dos mecanismos que regulam a vida e a organização das equipes ligadas a trabalhos preponderantemente idealizadores, sabendo que deles se ocuparão uma posição cada vez mais central na medida em que se consolidará a estabilização pós industrial das sociedades.

Ressalta-se que, em quaisquer dos projetos trazidos à luz deste trabalho de De Masi, destaca-se a articulação entre grupos de pessoas de nacionalidades diferentes, mas objetivos científicos e profissionais comuns. Isto contribuiu para a organização, administração e distribuição de funções e responsabilidades, considerando que a supremacia do projeto esteja no sucesso dos mesmos, dando liberdade à sua conduta e criação.

Pois, se os relatos histórico-científicos propostos por De Masi não nos servem hoje para atentar à dicotomia existente nas sociedades de consumo e de ordem produtiva pós-industrial e industrial, para que nos servirá nossa capacidade reflexiva sobre nossos estudos epistemológicos?

Resenha de Deisi Minella Ferreira


Entre a Ciência e a Sapiência: O dilema da educação. Entre a ciência e sapiência, Rubem Alves. São Paulo: Edições Loyola, 1999, 148 p.

Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação
Rubem Alves
São Paulo: Edições Loyola, 1999, 148 p.
 

No caminhar de sua vida pela Educação, Rubem Alves acumula os títulos de Doutor em Filosofia pela Universidade de Princeton (EUA) e Professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Num formato de crônicas, o autor traduz neste livro, suas experiências de educador, escritor e psicanalista e revela posturas epistemológicas que nos forçam a refletir sobre o papel dos educadores e seus desafios na formação do ser humano que luta para entender e aceitar os paradigmas tidos como “ideais” e “verdadeiros” na formação científica.

Nas inteligentes analogias que traz à baila nos diferentes textos e temas suscitados por este inquieto pensador, são reveladas angústias em relação ao modelo catedrático instaurado no meio acadêmico ou nos centros tido como científicos. Alves instiga o leitor a refletir sobre seu papel de educador ou o de educando como educando; provoca a ciência universal, questionando a relevância do saber na formação do indivíduo.

Numa linguagem agradabilíssima e envolvente, desafia olhares céticos e lineares sobre uma ciência rígida e “intragável”, como aquela abordada nos momentos em que correlaciona a arte de cozinhar e comer, com a arte do ensinar e do aprender. Na exposição desta ideia relatada na página 30, em que é taxativo na analogia e não mede esforços nem palavras para enfatizar o desgaste aos modelos que nós, educadores, corremos o risco de perpetuar, sem culpas às nossas heranças, cita:

       “Infelizmente, entretanto, nem tudo o que é científico funciona bem na prática: o povo
        sempre resiste à ciência. O fato é que a dieta provoca vômitos e .diarréias constantes
        nos. que .a. comiam. tA situação. era. absurda: quanto .mais .comiam, .mais .magros
        ficavam, .tendo .havido .mesmo .casos. de. pessoas. que. desenvolviam .tal .aversão
        à comida que acabavam morrendo de inanição”

O autor desafia cientistas, educadores, políticos e alguns (des) interessados, para uma educação que considere os saberes como parte inerente ao processo da construção do conhecimento e da sua utilidade ao crescimento universal – o indivíduo como ser universal.

Expressa, sem raiva contida, mas sim como notório amante da educação, a consideração ao humanístico, ao saber intrínseco à vida e ao sujeito.

Alves cita e apóia-se em Bachelard, Monet, Borges, Mills, Mannheim, Vinci (Leonardo), Popper e outros...  dentre eles Freud, Kuhn e Maquiavel... alguns “mais científicos”, outros “menos científicos”. Em todos, busca resquícios, noutras vezes evidências da construção de uma ciência menos jocosa e formadora de “grandes mestres” este termo citado por Kuhn em a Estrutura das Revoluções Científicas.

Leitura obrigatória e imperdível aos adeptos de uma educação com menos vícios!

Resenha de Deisi Ferreira


Filosofia da Ciência, Introdução ao Jogo e Suas Regras Rubem Alves. São Paulo: Brasiliense, 1993, 209 p.

Rubem Alves é um autor brasileiro. Nasceu em Boa Esperança, Minas Gerais, e fez seu doutoramento em Filosofia nos Estados Unidos, segundo ele, experiência de grande sofrimento, mas que, para nossa sorte, lhe possibilitou uma excelente formação para nos brindar com uma obra bastante rica e esclarecedora em relação à ciência, seu jogo e suas regras.

Apesar de sua formação não ter relação com a tecnologia – pelo menos explicitamente – Rubem Alves consegue através deste seu ensaio, levantar questões que constantemente nos afligem em relação ao mito que tanto a ciência quanto a tecnologia incutem em nossa sociedade.

Diz ele textualmente em um trecho de sua obra: “O cientista virou um mito. (...) Se existe uma classe especializada em pensar de maneira correta (...), os outros indivíduos são liberados da obrigação de pensar (...). (...) é necessário acabar com o mito de que o cientista é uma pessoa que pensa melhor do que as outras”.

Através de perguntas, de respostas e de exemplos simples, o autor vai tratando de assuntos como ordem, modelos, fatos, teorias científicas, métodos, tudo sob a sua visão de ciência, que ele encara como uma metamorfose do senso comum. Imagina ele existir uma continuidade entre o pensamento científico e o senso comum, contrariando outras visões que vislumbram uma ruptura, ou uma forte separação, entre estas duas formas de conhecimento.

É um livro de leitura bastante fácil, que pode ajudar a despertar reflexões sobre assuntos com os quais nós engenheiros trabalhamos cotidianamente sem que nos preocupemos com o que está por trás deles.


A Construção das Ciências Gérard Fourez. São Paulo: EdUnesp, 1995, 319 p.

A construção das ciências
Gérard Fourez
São Paulo: EdUnesp, 1995, 319 p.
 

Uma gama enorme de questões de interesse das pessoas que trabalham com ciência e tecnologia é o mote deste livro. São formuladas perguntas que deveríamos fazer cotidianamente, mas que, pela premência de tempo, deixamos relegadas em segundo plano.

Gérard Fourez nos ajuda, com esse ensaio muito bem estruturado, a desvendar como se constroem as ciências. Como elas funcionam? Como elas se inserem na sociedade? Quais são suas verdades? Em que medida elas podem contribuir para a solução dos problemas individuais e sociais? Quais as interações existentes entre ciências, política e ética?

Gérard Fourez nasceu em maio de 1937, sendo licenciado em Filosofia e Matemática, doutor em Física Teórica e professor da Universidade de Namur, onde fundou o departamento de Philosophie de l’homme de science. Fourez, que também é professor visitante da Universidade da Filadélfia, dirige esta obra a todos – especialistas ou não – que estejam interessados em saber o que são as práticas científicas e quais as suas condições de produção.

Dentre os inúmeros assuntos de relevância absoluta para quem, como nós, trabalha a ciência e a tecnologia no cotidiano das escolas, destacamos a importância que assume saber nos dias de hoje quais são as repercussões que apresentam para a civilização este esforço científico permanentemente relacionado aos projetos humanos.

Esta obra de Fourez se reveste de uma contribuição indispensável para quem quiser refletir sobre ciência e tecnologia com alguns fundamentos filosóficos e éticos.

Talvez dentre as obras que indicamos até aqui esta seja uma das que coloque com mais clareza a forma como as ciências fazem parte do mundo em que vivemos.


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