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Muita Leitura. Sempre!


Ler, sempre, de preferência nas mais diversas áreas de conhecimento, indubitavelmente é um potente "combustível" para o nosso aprimoramento intelectual. Eis a razão desta seção de publicação de resenhas sobre livros. Ela não deve ficar a cargo apenas dos componentes do Nepet. Ao contrário, deve ser um fórum onde todos possam nos brindar com as mais variadas contribuições através de relatos e informações que emprestem à leitura um forte componente para alimentar as reflexões na educação tecnológica.

(As resenhas são feitas a partir do original que foi lido.)


A Estrutura das Revoluções Científicas Thomas S. Kuhn. São Paulo: Perspectiva, 1990, 257 p.

Com este livro Thomas Kuhn aborda questões que “balançam” algumas das nossas convicções mais profundas em relação à ciência. Trata, por exemplo, de assuntos que nos convidam a pensar sobre várias questões. A ciência se desenvolve mesmo pela acumulação de descobertas e invenções individuais? Teorias descartadas são acientíficas? Podemos avaliar uma teoria com base em outra? Por que será que sempre são os outros que estão errados?

Conceitos como paradigmas, ciência normal e revoluções científicas, a partir dessa sua obra, passam a fazer parte das discussões sobre ciência.

Entendemos que ele faz um retrato da ciência como ele a vê, de uma forma bastante cativante, diga-se de passagem. Cada pincelada que ele dá nas suas argumentações parecem ter sido endereçadas diretamente para a engenharia. Ele apresenta uma ciência madura como uma sequência de períodos de ciência normal, só interrompidos por revoluções científicas. O que caracteriza estes períodos de ciência normal é, no seu entendimento, o fato de uma comunidade de pesquisadores aderir a uma malha disciplinar, ou seja, um estilo de pensamento, uma forma de agir e de pensar, o que ele chama de paradigma. Em rápidas palavras, paradigmas são as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes da ciência. Kuhn chega a afirmar que sem o compromisso com um paradigma não poderia haver ciência normal. Dá para refletir.

Kuhn, físico teórico por formação e historiador da ciência pelas circunstâncias, falecido em 17/06/1996, nos remete à análise da ciência através de seus fatores externos, e nos fala de uma competição entre comunidades científicas como único processo histórico que realmente resulta na rejeição de uma teoria ou na abolição de outra.

Mesmo que ele nos alerte que o cientista – ou engenheiro – que escreve [...] tem mais probabilidade de ver sua reputação comprometida do que aumentada, achamos que valem a pena os riscos, ao mesmo tempo em que sugerimos, por esta razão mesmo, uma leitura desarmada deste seu livro instigante.


A Ciência Como Atividade Humana George F. Kneller. Rio de Janeiro: Zahar/Edusp, 1978, 310p

A ciência como atividade humana
George F. Kneller
Rio de Janeiro: Zahar/Edusp, 1978, 310p


A ciência na história, o progresso em ciência, das conjeturas aos paradigmas. Estes são alguns dos assuntos que Kneller aborda com maestria, procurando mostrar a ciência como uma atividade humana. Como mote principal, o autor, que é Professor Emérito da Universidade da Califórnia, Los Angeles, busca mostrar com muita ênfase que a ciência é fruto de um esforço humano e coletivo e não uma força impessoal e irresistível. Ainda, ao contrário do que muitos pensam, o autor afirma neste livro que os valores e efeitos da ciência no mundo de hoje interessam tanto a leigos como a cientistas.

O cientista como pessoa, a comunidade científica, a ciência e a tecnologia e, ainda, a responsabilidade do cientista, fazem parte de suas preocupações e de suas análises menos tecnicistas – apesar de ele sempre deixar claro o completo imbricamento dos lados técnico e humano –, procurando desmistificar a figura “endeusada” dos cientistas. Mostra-nos o lado humano das pessoas que trabalham com ciência, sem no entanto perder de vista as suas relações com os métodos de pesquisa.

Kneller sempre busca contemplar a ciência como um movimento histórico. Para isso descreve as grandes revoluções no pensamento científico de forma contextualizada, realçando o esforço humano desta atividade. Análises de Ptolomeu a Copérnico, Galileu e Kepler, de Aristóteles e Descartes, Bacon, Kant e Popper, de Malthus e Darwin a Mendel, Koch e Pasteur, culminando no século atual com Einstein, Bohr, Fermi, Rutheford nos servem de orientação para verificarmos que, apesar de alguns efeitos culminarem sempre num nome de alguém que “ganhou” para si, por uma questão de oportunidade, os louros de uma determinada revolução científica, a atividade da ciência sempre se caracterizou como uma atividade humana coletiva, onde as pequenas contribuições possibilitaram estas grandes revoluções científicas.

Escrito em linguagem fluida e acessível, colocando o pensamento científico ao alcance de qualquer leitor atento, este livro é enriquecido por muitas concepções críticas originais e penetrantes que tornam o inevitável progresso da ciência mais compreensível e menos ameaçador.


Tecnopólio Postman. Neil. , A Rendição da Cultura à Tecnologia. São Paulo: Nobel, 1994, 221p.

Tecnopólio, a rendição da cultura à tecnologia
Postman. Neil.
São Paulo: Nobel, 1994, 221 P.

 
Livro escrito para fazer uma análise da cultura americana na década de 1990, serve – mesmo agora no início de 2010, para uma excelente reflexão a todos que trabalham a tecnologia ou a utilizam. Por esta e outras razões, ele é sempre indicado nas disciplinas que os componentes do grupo NEPET lecionam nas mais diversas áreas de conhecimento.

Por diversos motivos históricos e sociais, alerta o autor, e aqui nós endossamos esta preocupação, a estendendo para o Brasil, a humanidade corre o risco de se tornar um tecnopólio, ou seja, um sistema no qual as tecnologias de todos os tipos se sobrepõem às instituições sociais e à vida nacional, tornando-se autojustificada, autoperpetuada e onipresente.

O autor – crítico e teórico da comunicação e diretor do departamento de Comunicação da Universidade de Nova York – consegue, brilhantemente, traçar uma trajetória histórica da tecnologia, o que permite uma contextualização dos acontecimentos em diferentes estágios da sociedade.

Mostra a contribuição da tecnologia para o bem estar do homem, sem, no entanto se furtar de analisar com propriedade o outro lado da moeda. Afirma em todo o texto que se ela não for pensada, trabalhada e refletida com muito mais seriedade do que foi até hoje, pode representar efeitos preocupantes para a sociedade contemporânea.

Apesar de ser uma obra contundente, em momento algum se apresenta apocalíptica. Muito pelo contrário. É reflexiva e otimista até, quando coloca o homem como fator determinante para a reversão deste quadro.

Neste texto Postman examina as maneiras pelas quais a tecnologia exerce a sua tirania, situando-a na prática médica, na burocracia, na política e na religião. Imagina ele que a individualidade é minada e a liberdade pervertida num tecnopólio. Mesmo entendendo que as ferramentas e as tecnologias são indispensáveis para qualquer cultura, diz ele que temos que entendê-las e controlá-las, colocando-as no contexto de nossos propósitos humanos maiores.

É um livro de leitura 'obrigatória' para engenheiros, professores de tecnologia e alunos – afinal, serão eles que enfrentarão o problema futuramente –, e não requer iniciação alguma em outro campo de conhecimento. Requer sim, um espírito desarmado para uma reflexão madura das conseqüências das ferramentas tecnológicas que todos nós estamos ajudando a conceber ou a perpetuar.


 Como Vejo o Mundo Albert Einstein, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981

Como vejo o mundo
Albert Einstein
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981


 
Existe sempre certa resistência por parte de engenheiros, tecnólogos, professores de engenharia e alunos de cursos relacionados à tecnologia em ler obras que versem sobre questões políticas, sociais, humanas e correlatas, como se estes assuntos não devessem ter lugar na nossa formação, por sua aparente independência com as questões técnicas.

O livro de Albert Einstein – um dos paradigmas do cientista bem sucedido –, Como vejo o mundo, talvez sirva de start para quebrar com alguns equívocos tão prejudiciais à formação de nossos alunos – e por que não dizer de nossos professores. É uma leitura fácil, de certo modo tratando de assuntos triviais do dia-a-dia, e que coloca com ternura, conhecimento de vida e sinceridade os pensamentos humanísticos de um dos mais reconhecidos cientistas da humanidade.

Einstein aborda temas que constantemente nos afligem, mas que na atribulação de nossos dias pouco espaço encontram para reflexões. Ele faz perguntas como “Qual o sentido da vida?” ou “Como julgar um homem?”. Tece também comentários sobre a educação e o educador, sobre mestres e alunos, sobre política e pacifismo. Em uma das partes do livro, mergulha em algumas reflexões sobre os estudos científicos, com destaque para a teoria da relatividade, o que faz em termos claros e simples. Poucos sábios modernos foram, como ele, conscientes de que sabedoria é sinônimo de simplicidade.

Einstein, neste livro, volta-se para alguns problemas fundamentais do ser humano – o social, o político, o econômico, o cultural – e explicita claramente a sua posição diante deles. Deixa claro que o homem, por mais que conheça e possua, sem a liberdade de ser e agir não é nada.

É um livro de leitura simples e acessível, que mostra alguns pensamentos humanistas de um homem a quem aprendemos a admirar.

 É Bom Ler Isto! Pereira, L.T.V & Bazzo, W.A. ANOTA AÍ! Universidade: Estudar, Aprender, Viver... Florianópolis: Editora da UFSC, 2009.

Anota Aí! Universidade: estudar, aprender, viver...
Pereira, L.T.V & Bazzo, W.A.
Florianópolis: Editora da Ufsc, 2009.
Crônica da página 45

É bom ler isto!

Ler é mesmo importante? Por que, afinal, eu deveria passar horas com a cara enfiada num livro? Não seria muito mais interessante, motivador e eficiente viver a vida como ela é de fato? Se já está quase tudo disponível na internet, por que ler se, quando eu precisar, posso recorrer diretamente ao ponto, pesquisando só o essencial? Se hoje há dezenas de canais de televisão acessíveis ao toque de um controle remoto, onde eu posso assistir a reportagens fantásticas sobre ciência, natureza, cultura… por que perder tempo lendo e estudando?

Os tempos mudam. É possível até que o que conhecemos hoje como leitura, dentro de alguns anos possa ser realizado de forma diferente. Mas, acreditamos, é pouco provável que isso se dê assim tão de repente, da noite para o dia.

E quer saber mais? Essa adoração pela internet, que tem razões de sobra para despertar as nossas atenções, pode não estar com essa bola toda. Talvez até vários dos fantásticos programas que vemos na televisão – que enchem nossos olhos, fazendo com que nos sintamos protagonistas do enredo apresentado – não sejam assim tão proveitosos.

Você já percebeu que várias novidades tecnológicas que nos chegam são saudadas com empolgação esfuziante? Foi assim com o automóvel, no início do século 20, com a televisão, mais ou menos pela década de 1950, com o computador pessoal, na década de 1980, e é assim agora, com a internet, a televisão a cabo, o celular multifunções…

Você quer saber se nós, autores deste texto, abominamos a internet, saímos aí pelas ruas cortando cabos de televisão, sapateando em cima de celular, se consideramos que isso é o fim da humanidade, se não recomendamos o seu uso? Esqueçam isso! Somos seus usuários assíduos. Navegamos por várias páginas e canais na busca de informações, contatamos pessoas no mundo todo usando esses maravilhosos recursos. Mas, como todo recurso técnico, consideramos que estes também devem ser utilizados com reservas. Mais que isso: devem ser utilizados com critério, com crítica. Nos valermos das técnicas as utilizando como se estivéssemos agindo feito sonâmbulos não deve ser sinal de muita sensatez.

Vamos tentar uma experiência. Escolha, na internet, um mecanismo de busca bem conceituado e pesquise, por exemplo, a palavra ciência. Quantas ocorrências você encontrou para esta palavra? Talvez mais que 100 milhões. Se for pesquisada a palavra em inglês – science –, deve encontrar talvez um número 10 vezes maior. O que fazer com tudo isso? Qual endereço visitar primeiro? Qual credibilidade conferir ao que for lá encontrado?
Muito do que se encontra na internet é altamente dinâmico: hoje está lá, amanhã pode não estar mais. Contudo, os elogiáveis princípios da universalidade e da liberdade de expressão, tão bem entranhados na rede mundial de computadores – a web –, podem esconder surpresas para as quais ainda não temos soluções confiáveis.

Quando se publica um livro, toda uma rede é envolvida. Não se trata apenas de escrever, revisar, editorar e publicar. Normalmente, um conselho editorial analisa o seu mérito, as suas potencialidade no mercado, os investimentos necessários para a sua publicação e coisas do gênero. Nesta balada, muita gente já analisou o texto. Portanto, ele só chega às livrarias quando se chega à conclusão de que se tem aí algo de boa qualidade, que não contém erros conceituais comprometedores. Além, é claro, de se ter chegado ao palpite de que ele deve ser minimamente rentável.

Cinco minutos depois de escrever este texto, sem qualquer tipo de revisão, sem que mais ninguém o tenha lido, analisado e criticado, ele poderia estar disponível em rede, com acesso livre e imediato em qualquer lugar do mundo. Palmas para a internet!

Que bom que essa rapidez de divulgação de um texto possa ser tão fácil assim. Mas no embalo dessa agilidade toda, muito lixo é veiculado e registrado como se fosse “verdade científica” comprovada.

Para complicar um pouco mais as coisas, vocês já notaram que nós temos uma tendência de acreditar naquilo que lemos, principalmente se o que lemos confirma algumas de nossas opiniões ou se nos faz detentores de informações privilegiadas, que conhecemos em primeira mão?

Por isso falamos em analisar com crítica aquilo que lemos. Principalmente em mecanismos de publicação como a internet, onde não é possível selecionar aquilo que se veicula.
Ler é mesmo importante! Ler com crítica, é bom. Ler criteriosamente textos previamente analisados por pessoas experientes é melhor ainda.

Acima de tudo, a reflexão crítica é o principal papel da leitura.


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