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Muita Leitura. Sempre!


Ler, sempre, de preferência nas mais diversas áreas de conhecimento, indubitavelmente é um potente "combustível" para o nosso aprimoramento intelectual. Eis a razão desta seção de publicação de resenhas sobre livros. Ela não deve ficar a cargo apenas dos componentes do Nepet. Ao contrário, deve ser um fórum onde todos possam nos brindar com as mais variadas contribuições através de relatos e informações que emprestem à leitura um forte componente para alimentar as reflexões na educação tecnológica.

(As resenhas são feitas a partir do original que foi lido.)


O Colapso de Tudo: Os eventos extremos que podem destruir a Civilização Humana James Gleick – Rio de Janeiro: Campus, 2000, 237 p.

O Colapso de Tudo
Os eventos extremos que podem destruir a Civilização Humana
John Casti
Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, 349 p.

Onze alarmantes – e prováveis – situações que podem arrastar o mundo para uma idade das trevas.

Um apagão na Internet;
A falência do sistema global de abastecimento de alimentos;
Um ataque por pulso eletromagnético que destrói todos os aparelhos eletrônicos;
O fracasso da Globalização;
A destruição provocada pela criação de partículas exóticas;
A desestabilização do panorama nuclear;
O esgotamento das reservas de petróleo;
Uma pandemia global;
Pane no sistema elétrico e no suprimento de água potável;
Robôs inteligentes que dominam a humanidade;
Uma crise no sistema financeiro global.

Uma ameaça oculta paira no ar: o fracasso absoluto da chamada civilização avançada. A complexidade excessiva do mundo industrializado pode ser a porta de entrada para o caos. Cada vez mais dependente de novas tecnologias, globalizado e interconectado ele oferece infinitas possibilidades de consumo, conforto e oportunidades. Contudo, o equilíbrio da sociedade moderna pode ser tão frágil quanto o de um castelo de cartas. Basta um empurrãozinho do inesperado para colocar em xeque todo o modo de vida contemporâneo. Esses eventos extremos – ou eventos X como chama o autor – são capazes de interromper o fluxo de informações, o fornecimento de alimentos, energia, água e medicamentos por um longo período. Depois deles, nada será igual.

Parece um pouco catastrofista tal argumentação acima descrita, no entanto não é de hoje que estamos, dentro das escolas que trabalham com tecnologia, refletindo sobre estas possibilidades. E esta preocupação é sempre calcada em muita leitura. Este livro, publicado no Brasil agora no segundo semestre de 2012, parece que vem corroborar muitos outros já indicados aqui nessa seção. Independentemente de nossas convicções sobre todas as questões elencadas na lógica do texto sua leitura é obrigatória.

Profundo conhecedor da teoria dos sistemas, John Casti – tal qual Roberto Vacca autor do livro “A próxima idade média” já apontava em 1960 (este livro já foi resenhado em nossa seção) – mostra como níveis elevados de complexidade criam sistemas frágeis e propensos a colapsos espetaculares.

Nascido nos Estados Unidos, o matemático John Casti, ph.D., especializou-se nos estudo das teorias dos sistemas e da complexidade. Ele é um dos fundadores do X-Center, uma instituição de pesquisa com sede em Viena que analisa eventos extremos causados pelo homem e como prever sua ocorrência. Além de ter trabalhado por muitos anos para o Santa fe Institute e a Rand Corporation, fez parte do corpo docente das Universidades de Princenton, do Arizona e de Nova York. Atualmente, Casti mora em Viena, na Áustria. É ele que na introdução de seu livro nos passa algumas questões importantes a serem levadas em consideração quando da leitura do livro:

“Ao olhar rapidamente a capa deste livro, seria fácil pensar que se trata de mais uma narrativa profética de desgraças e tragédias, um relato de apocalipses prestes a assolar a humanidade e a conduzir nosso estilo de vida de volta aos padrões da era pré-industrial. Porém, como costuma acontecer na vida, as primeiras impressões podem ser enganadoras, ou até mesmo completamente erradas. O objetivo deste livro não é apavorar ninguém. Muito pelo contrário. Mas se aqui não se encontra uma visão infernal de um futuro próximo, o que há nestas páginas?”

Eu descobri e confesso que além de ter tido uma agradável surpresa com a fluidez do texto, fiquei impactado com dados que jamais sonhava ser realidade neste mundo que nos fornece tantas informações. Não sabemos quase nada sobre as questões que norteiam nossas vidas. Estarmos vivos, comendo, nos deslocando, trabalhando, sonhando é tudo uma questão de loteria. Mas uma loteria que pode ser, talvez, em alguns aspectos manipulada – controlada de certa forma – desde que tenhamos alguma noção sobre a extrema complexidade do mundo atual. Este livro nos ajuda muito nesta empreitada. O autor continua nos fazendo um pequeno relato sobre a lógica do livro que nos motiva muito a lê-lo por completo:

O livro em suas mãos relata possibilidades, possibilidades dramáticas, raras, surpreendentes, capazes de exercer um enorme impacto na vida humana, sobre as quais mantemos a ilusão de que não tem relação com nossos atos. Tais possibilidades costumam ser abarcadas pela expressão genérica “eventos extremos”. Prefiro chamá-los de eventos X. Este é um livro sobre estes acontecimentos fora do comum, aquelas surpresas que complementam tudo que se desenrola no que poderíamos chamar de âmbito da “normalidade”. Em contraposição, a esfera dos eventos X foi muito pouco explorada pela ciência, simplesmente porque seus elementos, sejam eles impacto de esteroides, crises financeiras ou ataques nucleares, são, por definição, raros e inesperados. A ciência em geral se atém ao estudo de fenômenos recorrentes. Os eventos X fogem a essa categoria, o que explica por que não existe, até o presente momento, nenhuma teoria decente que esclareça quando, como e por que eles ocorrem. Este livro é, no mínimo, uma convocação para o desenvolvimento daquilo que poderíamos batizar de “teoria da surpresa”. Podemos resumir afirmando que o principal objetivo deste livro é propor uma resposta para a seguinte pergunta: como caracterizamos o risco em situações nas quais a teoria da probabilidade e as estatísticas não podem ser empregadas?

Apesar do parágrafo acima ser uma dica do que é o livro, elaborada pelo próprio autor, ouso complementar estas informações realçando o caráter didático da obra. Escrito de forma simples, fluida e agradável nos leva a entender questões que, antes, nos pareciam apenas de domínio dos matemáticos. Para este intento o autor, de forma provocadora, examina minuciosamente as onze situações colocados no início de nosso relato, que poderiam devolver a humanidade à era pré-industrial. Não são catástrofes como a queda de um asteroide ou a erupção de um vulcão, mas eventos provocados pelo próprio homem e suas consequências, tais como um prolongado apagão na internet ou uma pandemia global. O mais assustador, ao lermos este livro, que vamos lembrando que todos os eventos catastróficos relatados – e o autor reforça este aspecto – já ocorreram de fato no passado. E, com toda a certeza, se não forem feitas mudanças radicais em nosso estilo de vida eles voltarão a acontecer. Resta estar preparado. E a leitura deste, e de muitos outros livros, nos chamando a refletir sobre tudo isso pode ser o começo da preparação educacional para frear certos acontecimentos.

O colapso de tudo é um livro de conceitos e ideias. Para que ele possa ser acessível para um maior número possível de leitores, o autor não utilizou fórmulas, quadros, equações, gráficos ou jargões da área. Em essência, o livro é uma coletânea de histórias vinculadas que, em conjunto, servem para provar que a complexidade pode matar – e matará – se a deixarmos fora de controle. Isto me pareceu ser o grande paradoxo da sociedade – e que o livro aponta com muita propriedade – que tanto acelera a complexidade do sistema ficando cada vez mais vulnerável a uma pane que pode custar nossas vidas.

Em tempo: quando lia sobre a complexidade dos controles de voos nos mais diferentes espaços aéreos do mundo estava dentro de um avião indo de São Paulo à Asunción. Confesso que me senti desconfortável. Por que será?

Walter Antonio Bazzo
dezembro de 2012


A velocidade da vida moderna: Acelerado, o desafio de lidar com o tempo James Gleick – Rio de Janeiro: Campus, 2000, 237 p.

A velocidade da vida moderna
Acelerado
O desafio de lidar com o tempo
JAMES GLEICK
Rio de Janeiro: Campus, 2000, 237 p.

Dificilmente um livro reúne tantos capítulos que, ao serem lidos, parecem terem sido escritos para mostrar nosso comportamento equivocado em relação ao tempo. Temos comentando em nossos escritos na página do NEPET a extrema necessidade dos seres humanos estarem acelerando tudo em relação à vida. Por quê? Pra quem? Para quê? Tem sido alguns dos questionamentos que provocamos ao falar sobre a relação CTS, um dos objetivos maiores de nossos estudos junto a este núcleo de pesquisa da UFSC. A literatura tem nos ajudado muito a nos suprir de farto material para tal tarefa.

Reforçando a observação primeira, Julian Dibbel da Amazon.com, faz a seguinte colocação ao comentar a obra que sua empresa distribui fartamente por todo o mundo:

Jamais na história da raça humana tanta gente teve de fazer tanta coisa em tão pouco tempo. Seja como for, essa é a impressão que nós geralmente temos na vida civilizada neste fim de milênio, e ACELERADO só serve para aguçá-la. Escrito com elegância e pesquisado com discernimento, este livro nos oferece uma célere rajada de observações sobre como microcircuitos, a mídia e a economia, inclusive vieram acelerar o ritmo do cotidiano, no correr do frenético século XX. O resultado é algo que só uma cultura acelerada como a nossa poderia produzir: um clássico instantâneo.

O trecho acima, trazido por Julian, foi escrito na época do livro – limiar do século XXI – e não perde nem um pouco de atualidade se lido depois de 12 anos de sua elaboração. Com a ideia de trabalhar com o tempo e, acima de tudo, com a aceleração, James está trazendo à tona uma característica que define a moderna era tecnocrática. Estamos sempre com pressa. Acelerando tudo e a todos que nos rodeiam. Os computadores, os filmes, a vida sexual, as conversas – tudo agora é muito mais rápido do que nunca. E, quanto mais preenchemos a vida com mecanismos e estratégias que nos poupam tempo, com mais pressa nos sentimos e mais ocupados ficamos.

O marcapasso, A vida como tipo A, O botão para fechar a porta, Sua outra face são alguns dos capítulos que já nos deixariam com “a pulga atrás da orelha” ao confrontarmos seus conteúdos com o nosso cotidiano. Parece que estamos relatando nosso dia e fazendo autocríticas sem, no entanto, tomarmos alguma atitude para desacelerar nossa pressa de chegar não se sabe onde.

Mas, tem muito mais! Perdidos no tempo, No tempo da internet, Rápido – sua opinião, Sexo e papelada, Comer e correr, Ação – ação – ação – ação. E, apesar deste muito mais, paro por aqui. Como já sinalizei outras vezes, este espaço de socialização de leituras é para instigar, fazer algumas parcas recomendações e, quiçá, ajudar a criar a necessidade e o interesse em relação ao ato de ler. Não se trata, sobremaneira, de descrever as obras. Elas devem ser lidas como uma degustação, que nos leva sempre a novas reflexões e buscas em prol de uma sociedade mais humana e menos desigual. Nada mais que isso. Encontre tempo para ler! Vale à pena.

Walter Antonio Bazzo
dezembro de 2012


Dez considerações sobre o tempo Bodil Jönsson – Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2004, 156 p.

DEZ CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO
BODIL JÖNSSON
Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2004, 156 p.

Há poucos dias atrás finalizei a escrita de uma coluna para a Revista Clínica, intitulada Fragmentos do dia a dia, Acelerando por quê?, que poderá ser encontrada aqui na página do NEPET na seção “Opinião” já nos próximos meses. A questão do tempo foi fundamental para a linha de raciocínio que eu desenvolvi. Talvez por isso o livro Dez considerações sobre o tempo tenha “caído” em minhas mãos. A autora Bodil Jönsson é professora de física na Universidade de Lund e nos brinda com estas reflexões que, apesar de terem sido escritas originalmente no ano de 1999, ainda são totalmente atuais. Este livro tornou-se um fenômeno editorial na Suécia, com mais de 250 mil exemplares vendidos em poucos meses e foi traduzido no mundo inteiro. Não poderia, obviamente, para quem pretende entender um pouco mais sobre as intricadas questões contemporâneas, ficar de fora das resenhas da página do nosso núcleo de estudos.

O livro é composto de vários capítulos sempre tendo o tempo como o comandante das ações. É interessante este rastreamento para entendermos algo do seu conteúdo para depois procedermos a sua leitura. Apenas para reforçar, digo que vale a pena. O livro é muito instigante e provocador. No primeiro capítulo, a autora concebe o tempo como próprio do homem e situa o leitor na lógica da obra como um todo. Depois, no segundo capítulo, trata sobre o tempo dos relógios e o tempo vivido. Segue aprofundando o tempo da parada para em seguida, no quarto capítulo, abordar o conceito de tempo inteiro e tempo dividido. “Pensar toma tempo”, é o tema que ocupa o quinto capítulo. Proximidade e presença, marcha da mudança e percepção do tempo, ritmo e arritmia preenchem as três partes sequentes do livro. Nos capítulos 9 e 10, Jönsson arremata sua linha de argumentações com os títulos: “Pensar para a frente, pensar ao contrário” e “Por que há tão poucos caniches?”, respectivamente. Com estas descrições da obra, minha expectativa é despertar a curiosidade. A seguir, apresento um dos trechos que podem viabilizar este propósito:

Uma grande parte dos problemas ecológicos atuais são efeitos secundários do fato de que nossa cultura imagina não ter tempo – esse tempo que constitui o único capital de que dispomos. No futuro, o homem revelar-se-á um bom ou mau recurso natural em função da maneira como administramos a nossa relação com o TEMPO. Acreditamos ter resolvido a maior parte dos problemas dependentes da distância. Julgamos saber como nos relacionar com uma integração global fundada sobre o ‘tele’ (do grego téle, ‘longe’, significando ‘ao longe’, ‘à distância’). Na verdade nos tornamos muito fortes no ‘tele’ para compensar nossas fraquezas e a nossa falta de aptidão. O homem não ouve ao longe. Inventou, então, o telefone (do grego foné, ‘voz’, ‘som’). O homem não vê longe, inventou a televisão. Além da utilização do telefone, da televisão e de outros meios de teleinformação, praticamos hoje a teleconsumação e produzimos um monte de ‘telerresíduos’ (rejeitos na atmosfera, poluição do ar, da água e do solo). Portanto, nem tudo está adaptado à ‘teleperspectiva’. Assim, duvido que o ‘telessaber’ nos enriqueça. O saber e a informação não são absolutamente a mesma coisa. As interações e o intercâmbio humano podem verdadeiramente se realizar na base do ‘tele’? Pode-se estabelecer uma ‘telepaz’? Ter uma ‘telerresponsabilidade’? (JÖNSSON, 2004, 76 – grifos meus)

A parte grifada, escolhido entre muitos e de caráter provocativo-reflexivo, nos remete a uma discussão recorrente nos inúmeros assuntos que o NEPET traz quando discute as questões voltadas à Educação Tecnológica. Somente esse aspecto já se tornaria suficiente para nos motivar à leitura completa do livro aqui relatado.

Destaco ainda outro fragmento cuja intencionalidade se desdobra em duas ações: por um lado, aguça a vontade de refletir sobre o tempo na companhia de um livro, por outro lado, evidencia a necessidade de pensarmos sobre a relação entre o tempo, a tecnologia e a finalidade da vida humana:

Quando alguém me fala da última engenhoca comprada para ganhar tempo, pergunto – quando ouso: ‘E o que você vai fazer com este tempo?’ É uma boa pergunta, mas perigosa. Põe o dedo exatamente na válvula de vedação essencial. Aqui e agora, temos a sensação de que o tempo nos escapa, que passa cada vez mais rapidamente. Que fazer? Compramos alguma coisa para ganhar tempo. Mas o tempo continua acelerado, então compramos outra coisa para economizar mais tempo... (JÖNSSON, 2004, 17)

Sem dúvida, observamos que, através dessa síntese, o ‘ganhar tempo’ se relaciona diretamente com o consumo. Pois é! Poderíamos discutir sobre isso, mas acredito que vá “faltar tempo”. Então, aconselho ler os dois livros “Darwin vai às compras” e “Consumido”, indicados e também já resenhados nesta seção. Ambos discutem sobre consumo com muita propriedade. Agora, depois de supor que vocês ficaram curiosos para iniciar a leitura, espero que consigam tempo para fazê-la. Até nosso próximo livro.

Walter Antonio Bazzo
novembro de 2012


Darwin vai às compras: sexo, evolução e consumo Geoffrey Miller – Rio de Janeiro: BestSeller, 2012, 531 p.

Darwin vai às compras
Sexo, Evolução e Consumo
Geoffrey Miller
Rio de Janeiro: BestSeller, 2012, 531 p.

Outro daqueles que a gente não consegue parar de ler. De uma maneira clara e bem articulada, Geoffrey Miller, professor de psicologia evolutiva da Universidade do Novo México, mapeia as conexões entre as tendências evolutivas humanas e os desejos, as vontades e escolhas de consumidores. Na mesma direção do livro de Barber – já destacado nesta nossa seção – ‘Consumido’, esta obra nos chama atenção da contradição profunda existente entre a palavra de ordem do ‘desenvolvimento sustentável’ e o consumismo desenfreado patrocinado pelo capitalismo selvagem.

Dylan Evans, autor de Emotion: The Science of Sentiment, na contracapa do livro, diz, com muita propriedade: ‘Um dos relatos mais claros e abrangentes sobre marketing e capitalismo já escritos. Surpreendente e, muitas vezes, chocante, é um prazer completo ler este livro’. Eu complementaria dizendo que, além do prazer que ele nos causa, é necessária a sua leitura para entender alguns tabus da Educação Tecnológica que continua abandonando certas variáveis para entender a complexa equação de suas responsabilidades em relação ao futuro do planeta Terra.

De Rolex a Rollerblade, de Pravda a Escada, de MBAs a BMWs – estendendo este raciocínio para uma infinidade de produtos de marca – cada vez mais somos consumidos pelo consumismo. Ocasionalmente, podemos até pensar que somos controlados por ferozes campanhas de marketing, capitaneados pelos mais inescrupulosos homens do planeta – os marqueteiros. Porém a verdade é que estamos mais do que dispostos a sermos seduzidos pelos brilhantes e reluzentes objetos que eles, provocativamente, colocam diante de nossos olhos. Eram estas, talvez, as palavras que eu gostaria de colocar como resumo da leitura e que encontrei numa das orelhas do livro e que sigo relatando para mostrar para nós, que trabalhamos com Educação Tecnológica e CTS, a importância de entendermos um pouco mais desta variável – o consumo exacerbado – nas análises de conteúdos que devemos começar a trabalhar com nossos alunos.

Diversas indústrias surgiram para tentar entender – e explorar – os hábitos de consumo, apesar de a maioria se basear em fórmulas incorretas, oportunistas e, em última análise, dispensáveis. No entanto, recentemente, a psicologia evolutiva começou a identificar as origens pré-históricas de grande parte do nosso comportamento e formulou conceitos revolucionários em campos que abrangem desde a economia até relações interpessoais. Em Darwin vai às compras, Miller, um dos maiores especialistas do assunto, aplica esses princípios científicos a uma nova área de estudo: o sedutor e maravilhoso mundo da procura incansável por status, que chamamos de “cultura consumista global”. Nós, que trabalhamos com a tecnologia diretamente, podemos ficar fora desse entendimento?

Começando pela noção básica de que os produtos que compramos e os serviços que contratamos estão, inconscientemente, ligados ao nosso potencial biológico de agir como parceiros e amigos, Miller examina os fatores ocultos que influenciam todas as nossas escolhas: de carros a batons, dos videogames que jogamos aos livros que lemos ou às músicas que ouvimos. Com humor e inteligência, o autor analisa essa série de decisões e decifra o que os produtos revelam sobre os traços-chave que estamos programados para mostrar aos outros (inteligência, abertura a coisas novas, conscienciosidade, agradabilidade, estabilidade e extroversão), proporcionando, assim, acesso a uma nova maneira de pensar o que compramos e por que compramos.

Ilustrando a lógica imperceptível por trás do caos do consumismo, Darwin vai às compras é um trabalho revelador e ousado, que nos possibilita ostentar nossa aptidão – o objetivo biológico mais primário do ser humano – de forma individual, criativa e sábia.

CAPITALISMO DE CONSUMO: é o que é, e não devemos fingir que seja outra coisa. Mas o que é realmente? É difícil descrever o consumismo quando ele é oceano e nós somos plâncton.

Ao nos depararmos com o incomensurável, poderíamos começar formulando algumas novas perguntas. Aqui vai uma: por que o primata mais inteligente do mundo compraria um veículo esportivo/utilitário como o Hummer H1 Alpha por 139.771 dólares? Esse carro não é prático como meio de transporte. Sua capacidade é de somente 4 pessoas, precisa de um raio de 15,5 metros para fazer uma curva, faz 4,2 quilômetros por litro de gasolina, demora 13,5 segundos para atingir 96 quilômetros por hora e, de acordo com a Consumer Reports não é muito confiável. Ainda assim, algumas pessoas sentem a necessidade de comprar um – como a propaganda do próprio Hummer diz: “Necessidade é uma palavra muito subjetiva”.

Muito embora o bom-senso afirme que compramos coisas porque vamos adorar possuí-las e usá-las, pesquisas mostram que os prazeres da aquisição são, na melhor das hipóteses, de curto tempo. Então por que insistimos na rotina consumista – trabalhar, comprar, almejar?

São pequenos parágrafos que constituem a metade da primeira página desse livro de quase 600 e que servem para dar o gosto da curiosidade de lê-lo. Garanto que vale o desafio de dispensar algumas horas para entender várias das atitudes que tomamos movidos pelo modismo do consumo. Boa leitura.

Walter Antonio Bazzo
novembro de 2012


A revolução do amor: Por uma espiritualidade laica Luc Ferry. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, 359 p.

A revolução do amor
Por uma espiritualidade laica
Luc Ferry
Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, 359 p.

Confesso que quando vi o título desse livro na prateleira de uma livraria no aeroporto do Galeão fiquei um pouco com o pé atrás. A Revolução do amor?… Pensei rapidamente naquele desfile de livros de autoajuda – e nem sei se deveria ser preconceituoso com esse tipo de leitura, mas assumo que sou – e o esqueci no montinho de livros para serem lidos por outros que por estes tópicos se interessam. Continuei a circular pelos corredores crivados de livros disponíveis para as mais variadas leituras – já falei em outras oportunidades como este exercício de andar por entre os livros me fascina – e, sei lá por qual coincidência, estava eu de frente, agora, a uma estante que selecionava os livros por autores. Quem vi? Luc Ferry! Ah, este é um autor que já me proporcionou uma excelente leitura através do Aprender a viver – já resenhado nesta seção do Nepet – e, para meu espanto, era ele o autor de A Revolução do amor. Tomei então – aprendendo a não ser preconceituoso com títulos que podem ser enganosos – o livro em minhas mãos e lá mesmo, na livraria, comecei a devorar seu conteúdo. Estava na oportunidade indo para Castanhal, no Pará, trabalhar CTS num evento para o qual foi convidado. Não precisa dizer que no avião – que bom que o Pará é tão longe – indo e voltando terminei de ler todo o texto. Fiquei ansioso para transformar aquela leitura rapidamente em mais uma dica. Queria publicar na nossa página para disponibilizar para o maior número possível esta bela obra contemporânea. Não foi possível publicar logo no outro dia porque o NEPET, em função da greve das universidades e outros problemas de ordem interna, estava com sua página sem possibilidade de atualização. E, na qualidade de leitor compulsivo, fui à busca de nova leitura. Estou lendo Darwin vai às compras. Outra delícia de narrativa sobre o consumismo e que será tema da nossa próxima conversa nesta seção. Mas isso é para depois. Sobre a obra de Luc Ferry é importante seu próprio depoimento sobre aquilo que escreve e está estampado numa das orelhas do livro:

“O amor é o novo grande princípio da nossa existência. Todo mundo sabe, todo mundo sente. O menos óbvio, e que é o tema deste livro, é que este novo poder do amor está revolucionando os princípios fundadores da filosofia e da política. O cosmos dos gregos, o deus das religiões monoteístas, a razão e os direitos do humanismo republicano pairavam acima da vida sentimental. Tardiamente, a paixão pouco a pouco substituiu os antigos valores. Quem morreria, pelo menos no Ocidente, por Deus, pela pátria, pela revolução? Ninguém ou quase ninguém, mas por aqueles que amamos seríamos capazes de tudo. Para além do humanismo das Luzes e de seus críticos, para além de um Kant e Nietzsche, uma nova espiritualidade laica nasce da sacralização do ser humano por meio do amor.”

O livro, dividido em três partes – Theoria, Moral e Espiritualidade – faz uma varredura das razões que fizeram o homem sempre buscar a sua felicidade. Desde os gregos até a contemporaneidade as questões filosóficas são revistas e analisadas. Para aqueles que trabalham e respiram tecnologia, parece impossível que exista tanta relação dos processos intricados da técnica, que prometem tanto e tantas vezes são ilusórias, com as questões filosóficas. Luc nos remete a pensar nisso com a maestria de sempre. No desenrolar do texto e no seu final nos faz compreender o porquê do título do livro. Uma revolução do amor é necessária.

Luc Ferry nasceu em Paris em 1951. É filósofo e um dos principais defensores do humanismo secular – visão de mundo que se contrapõe à religião, por conta de seu compromisso com o uso da razão crítica, em vez da fé, na busca de respostas para as questões humanas mais importantes. Isso o faz um autor indispensável para entendermos algumas das inúmeras variáveis da relação cada vez mais complexa da ciência, da tecnologia e da sociedade. Luc Ferry foi ministro da Educação na França de 2002 a 2004. Com o livro Aprender a viver, ganhou o Aujourd’hui, em 2006, um dos mais conceituados prêmios de não ficção contemporânea na França. Ao escrever este novo livro ele disse:

“É uma evidência que salta aos olhos, que percorre e transtorna permanentemente nossa vida privada. No entanto, mal ousamos confessá-la, a não ser na mais restrita intimidade: é o amor que dá sentido a nossa existência.”

Precisaria falar mais para motivar a leitura deste livro? Acho que não, mas não custa utilizarmos mais esta citação constante na contracapa da obra:

“Rompendo teorias pessimistas sobre o esvaziamento de valores do século XXI, Luc Ferry propõe outro olhar sobre a humanidade. A ausência de um deus ou da razão como princípio fundador teria deixado espaço – com a evolução da história da família – para a importância primordial que hoje damos à busca pelo amor. O pensador encontra nessa nova dimensão do humano o que chama de espiritualidade laica. Segundo Luc Ferry, ‘hoje, no Ocidente, ninguém arrisca a própria vida para defender um deus, uma pátria ou um ideal de revolução. Mas vale a pena se arriscar para defender aqueles que amamos. Vivemos a revolução do amor, e essa é a melhor notícia do milênio’.”

Estudar CTS sem conhecer esta variável do milênio parece ser inócuo. Boa leitura.

Walter Antonio Bazzo
agosto de 2012


Gaia: Alerta final James Lovelock. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010, 262 p.

Gaia
Alerta final
James Lovelock
Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010, 262 p.

Muitos se lembram da série de livros que este autor escreveu sobre GAIA. “Lovelock vai ficar na história como o cientista que mudou nossa maneira de ver a Terra”, diz textualmente uma coluna do The Independent ao relatar essa sua última obra. Confesso que sempre relutei em ler sobre GAIA. Algumas vezes por preconceito, mas, na maioria das vezes, por desinteresse. Até que, finalmente, aproveitando um pouco da “folga” que o mês de julho nos oferece, me rendi e “saboreei” a leitura de Gaia: alerta final em apenas dois dias. Leitura impactante! Lovelock afirma que estamos rumando para uma catástrofe climática que só permitirá a sobrevivência humana em alguns locais do planeta. Ele tem razão? Não tenho algo claro na minha cabeça ainda. Aliás, este assunto vem tomando várias horas de discussão entre os especialistas. Nós que trabalhamos com Educação Tecnológica não podemos ficar ausente desses debates – independentemente de nossa posição em relação ao tema –, sob o risco de ficarmos devendo uma parte importante da construção do conhecimento para a formação de nossos jovens.

Na leitura do texto dá para constatar que James é um pensador independente, claro e bem-fundamentado. Por esta independência tende a ser polêmico, e ninguém é obrigado a concordar com todas as suas ideias e propostas que são próprias e não se amoldam a outras apenas para serem aceitas. Mas sua genialidade científica é inquestionável. Aliás, ele publicou mais de duzentos artigos científicos. É autor da hipótese Gaia (agora, teoria de Gaia), de quatro livros sobre o tema. Nasceu em 1919, em Letchworth, na Inglaterra, e obteve uma bolsa de estudos na Universidade de Manchester. Com formação em química, medicina e biofísica, inventou instrumentos científicos utilizados pela NASA para a análise de atmosferas extraterrestres e de planetas. Considerado pela revista Prospect um dos cem maiores intelectuais do mundo em 2005, detém, entre outros, o título de Companion of Honour, conferido pela rainha Elizabeth II, e a medalha Edimburgo, recebida no Festival Internacional de Ciência de Edimburgo, em 2006. Creio que o desfile de suas qualidades é um excelente cartão de apresentação para chamar à leitura deste texto.

James Lovelock, um dos pais do Movimento Verde, declarou que sua obra anterior, A vingança de Gaia, era “um apelo para despertar a humanidade”. Em Gaia: alerta final ele adverte que os problemas ambientais do século XXI são ainda mais ameaçadores do que havia denunciado: as calotas polares estão derretendo de modo acelerado, e a escassez de água e os desastres naturais, ocorrências mais comuns que em qualquer outra época da história recente. As civilizações de muitos países estarão ameaçadas, e a vida, tal como a conhecemos, corre sérios riscos. Esse é o primeiro parágrafo da apresentação da obra na orelha do livro que, melhor que eu, começa a chamar para a leitura de todas as suas páginas. E prossegue.

Observadores profissionais revelam que a maioria das previsões sobre a velocidade das mudanças climáticas no planeta subestimou seu impacto e rapidez, que, hoje, podem ser avaliados de modo mais consistente. Como comunidade global, continuamos obcecados pelas ideias “verdes” convencionais e acreditamos que elas irão salvar nosso mundo. Lovelock argumenta neste livro que só a teoria de Gaia, concebida por ele há mais de quarenta anos, poderá, de fato, ajudar a entender plenamente a crise. A Terra abriga pessoas e animais em excesso – essa é a raiz do problema.

Existe, na verdade, um único direcionamento que poderá promover a cura permanente do problema da mudança climática, mas é improvável que o adotemos. Isso incluiria, entre outras medidas, reduzir a população, mudar a maneira de produzir alimentos e aplicar soluções de geoengenharia que amenizem o aquecimento global, tornando habitáveis espaços não ocupados em alguns continentes. “Nosso desejo de manter as coisas como estão provavelmente nos impedirá de nos salvarmos”, alerta o autor. Portanto, precisamos nos adaptar da melhor forma, e tentar garantir nossa sobrevivência, em número suficiente, para que uma espécie mais hábil possa evoluir a partir de nós.

É difícil imaginar uma mensagem mais importante para a humanidade. James Lovelock é, desde a década de 1960, um observador ativo do meio ambiente e das ameaças à Terra, celebrado por suas conclusões precisas. Foi o primeiro a constatar o acúmulo de CFCs e de outros gases no ar. Este é seu último aviso.

Quando, nestes últimos meses, se acirrou a discussão sobre o aquecimento global – inclusive entre nossos alunos nos mais diversos cursos por nós oferecidos – e as ideias eram muito controversas, senti a necessidade de novos aportes. Sem dúvida Lovelock me inspirou muito para ter mais argumentos para entender tão intricado problema. Por certo vou em busca de suas outras obras. Mas este livro traz incontáveis perturbações para nossas ideias sobre o aquecimento global e outras questões relacionadas ao clima.

Walter Antonio Bazzo
agosto de 2012


A geração superficial: o que a Internet está fazendo com nossos cérebros Nicholas Carr. Rio de Janeiro: Agir, 2011, 311 p.

A geração superficial
O que a Internet está fazendo com nossos cérebros
Nicholas Carr
Rio de Janeiro: Agir, 2011, 311 p.

“Para algumas pessoas, a ideia de ler um livro tornou-se antiquada, até um pouco tola – como costurar as próprias roupas, por exemplo. Em uma palestra recente, a professora de literatura da Universidade de Duke, Katherine Hayles, confessou: ‘Não consigo mais fazer com que meus alunos leiam livros inteiros.”

Este é um trecho da orelha deste instigante livro de Nicholas Carr, que foi colaborador do New York Times. Ele escreve sobre economia, cultura e tecnologia e é membro do conselho editorial de consultores da Enciclopédia Britânica. Listado entre os livros mais vendidos nos Estados Unidos em 2011, A geração superficial foi finalista do prêmio Pulitzer do mesmo ano. Mas, voltando ao trecho citado, qual professor – que deveria ter o costume da leitura – não sofre as mesmas agruras com quase a totalidade de seus alunos? Este depoimento desta professora vem a calhar com as finalidades desta nossa seção na página do NEPET. Até porque, no desenrolar da obra o autor mostra a importância cognitiva que este costume traz para todos nós. . Estas questões todas nos mostraram a importância de tal tema nas discussões desta nossa página e por isso, o livro, foi mote do último seminário da disciplina CTS, questões contemporâneas da PGGECT da UFSC. Depois do seminário realizado – disponibilizado aqui no arquivo – os alunos Angelita Momm, Marcelo Palma e Roberta Sodré nos brindaram com a descrição abaixo que completa nossa resenha de Geração Superficial.

A presente obra de Carr procura trazer uma abordagem sobre como a internet nos impõe uma cultura de superficialidades. O autor inspirado na célebre frase de McLuhan(1964) “O meio é a mensagem”, liga a sua história pessoal do uso do computador, a história de outras tecnologias que influenciaram a cultura da época. Além disso, o autor pautado em pesquisas sobre a neuroplasticidade procura defender a influencia das ações das ferramentas tecnológicas sobre a reorganização de sinapses cerebrais. O livro traz um relato dos avanços tecnológicos da escrita, desde uma cultura oral, passando para uma cultura literária e chegando a era digital e defende amplamente os benefícios da leitura profunda.

No capítulo 1, Carr inicia falando sobre as percepções de sua rotina de trabalho em relação a crescente falta de concentração, contemplação e inquietude que tem vivenciado e relaciona a forma com vinha usando o computador ao filme de ficção “2001: Uma odisseia no espaço.” Questionando se ele mesmo havia se tornado um Hall Humano ao se perceber como uma máquina de processamento de textos de alta velocidade.

O autor, no capítulo 2 aborda a passagem científica de ter como verdade a concepção mecânica da mente, de cérebro adulto para a constituição atual do cérebro. Pontua por meios de um histórico de pesquisas científicas a extensão da neuroplasticidade a parte sensorial e demais circuitos, não apenas a parte motora. Dessa forma, procura relacionar como novos circuitos neuronais são formados ou moldados a partir do uso e desuso de certas tecnologias e com elas as habilidades humanas.

Nos capítulos 3 e 4 a obra traz como outras tecnologias propuseram interferências modificando estruturas sociais e trazendo consigo novas formas de pensar e agir. Carr nos brinda com fatos históricos e curiosos sobre: o mapa, o relógio, a escrita, a leitura e por consequência sobre o livro. Nas descrições procura nos mostrar como a sociedade se moldou em torno das novas tecnologias e a transição de cada época em que novos meios foram inseridos. O autor afirma que os caminhos do cérebro estão sendo novamente redirecionados em função da inserção do mundo virtual em nossas rotinas de trabalho, estudo e lazer.

No capítulo 5 o autor trata das origens das ideias que desencadearam as máquinas automáticas que hoje conhecemos por computador e suas limitações em relação à tecnologia da época de sua concepção e as atuais. Apresenta como elementos fundamentais da web a bidirecionalidade e a interatividade que promovem o aumento da dedicação do tempo dos usuários ao uso dos recursos disponíveis na internet.

A obra, no capítulo 6, traz a história das publicações impressas e sua rápida migração para os sistemas eletrônicos de digitalização, especialmente o livro, é o foco do autor, que traz algumas hipóteses sobre o grau de profundidade do entendimento em leituras utilizando meios digitais.

No capítulo 7 o texto ilustra situações e pesquisas sobre as interferências e alterações que o uso do computador pode acarretar em nosso cérebro especialmente nos processos de memorização, atenção e cognição.

A partir do capítulo 8, Carr, explora o mundo da Google, iniciando com um título bem sugestivo – A igreja da Google. Fala sobre a sua fundação, seus objetivos, missão e ações para desenvolverem o buscador mais eficiente do mundo. Percebemos que toda a agilidade promovida pelo meio nos “clicks” de nossos mouses tem um objetivo bem claro, o lucro promovido pelas propagandas veiculadas.

Na sequência, no capítulo 9, é discutido por meio das experiências de Kandel o funcionamento de nossa memória, pontuando os benefícios e as consequências da utilização deliberada da internet em nosso cotidiano.

No capítulo 10, conta a experiência do programa ELIZA e serve como exemplificação da forma como nos deixamos influenciar e ser dominados pela cultura que esta por traz da tecnologia, onde o meio se transforma na mensagem. Ao final fica a pergunta: Estamos nos tornando um HALL HUMANO, uma máquina de processamento de informações? Que atividades você pratica que estimulam a cultura da superficialidade? Deixamos aqui a resenha para que possa aguçar a sua curiosidade e promover a excelente leitura da obra que nos traz reflexões capazes de formar consciência.

Walter Antonio Bazzo
junho de 2012


Introdução aos estudos CTS: ciência, tecnologia e sociedadeEds. Walter Antonio Bazzo, Irlan von Linsingen, Luiz Teixeira do Vale Pereira. Madrid: Organização dos Estados Ibero-americanos, 2003, 170 p.

Introdução aos estudos CTS
Ciência, tecnologia e sociedade
Eds. Walter Antonio Bazzo, Irlan von Linsingen, Luiz Teixeira do Vale Pereira
Madrid: Organização dos Estados Ibero-americanos, 2003, 170 p.

Não é costume fazermos comentários de um livro produzido pelo NEPET. Este caso é raro e é fruto de um trabalho realizado por dois alunos do curso de PPGECT – Andrei Buse e Stavros Ioannis Kostopoulos – através de um seminário de análise sobre este livro editado pelos componentes do NEPET listados acima. O livro, na realidade, é uma tradução do original Ciência, Tecnologia y Sociedad: uma aproximación conceptual elaborado por professores espanhóis, quase todos colaboradores da OEI. São eles:

– Eduardo Marino García Palacios;
– Juan Carlos González Galbarte;
– José Antonio Lopes Cerezo;
– José Luis Luján;
– Mariano Martín Gordillo;
– Carlos Osorio;
– Célida Valdés

Os estudos sobre ciência, tecnologia e sociedade e suas relações foram transportados ao idioma português com algumas adaptações à nossa realidade, porém sem nenhuma alteração no teor do texto. Leitura obrigatória para quem pretende refletir sobre as relações “CTS”, o livro se divide em quatro capítulos. Os três primeiros capítulos do livro são perguntas – O que é ciência? O que é tecnologia? O que é sociedade? – que vão sendo respondidas e vão dando significado interdisciplinar e não enciclopédico à tríade conceitual que sustenta os estudos com enfoque “CTS” ao mesmo tempo em que tece as intrincadas relações entre eles.

O quarto e último capítulo aborda diretamente o enfoque CTS e oferece um panorama geral sobre como vários e importantes segmentos da sociedade vislumbram o fenômeno científico-tecnológico. Abaixo o link para a apresentação do seminário é mais que suficiente para dar uma panorâmica sobre o conteúdo do livro para os interessados em sua leitura.

(Seminário)

Walter Antonio Bazzo
Junho de 2012


Tecnopólio: A rendição da cultura à tecnologia Neil Postman. São Paulo: Nobel, 1994, 221 p.

Tecnopólio
A rendição da cultura à tecnologia
Neil Postman
São Paulo: Nobel, 1994, 221 p.

Esta resenha já havia sido feita há quase 9 anos. Ela está de volta em função da importância do livro para nossos propósitos e do trabalho – clique aqui – que dois alunos – Leila Cristina Aoyama Barbosa e Leonardo Victor Marcelino – do PPGECT elaboraram sobre ele.

Livro escrito para fazer uma análise da cultura americana na década de 1990, serve – mesmo agora no início de 2012, para uma excelente reflexão a todos que trabalham a tecnologia ou a utilizam. Por esta e outras razões, ele é sempre indicado nas disciplinas que os componentes do grupo NEPET lecionam nas mais diversas áreas de conhecimento.

Por diversos motivos históricos e sociais, alerta o autor, e aqui nós endossamos esta preocupação, a estendendo para o Brasil, a humanidade corre o risco de se tornar um tecnopólio, ou seja, um sistema no qual as tecnologias de todos os tipos se sobrepõem às instituições sociais e à vida nacional, tornando-se autojustificada, autoperpetuada e onipresente.

O autor – crítico e teórico da comunicação e diretor do departamento de Comunicação da Universidade de Nova York – consegue, brilhantemente, traçar uma trajetória histórica da tecnologia, o que permite uma contextualização dos acontecimentos em diferentes estágios da sociedade.

Apesar de ser uma obra contundente, em momento algum se apresenta apocalíptica. Muito pelo contrário. É reflexiva e otimista até, quando coloca o homem como fator determinante para a reversão deste quadro.

Neste texto Postman examina as maneiras pelas quais a tecnologia exerce a sua tirania, situando-a na prática médica, na burocracia, na política e na religião. Imagina ele que a individualidade é minada e a liberdade pervertida num tecnopólio. Mesmo entendendo que as ferramentas e as tecnologias são indispensáveis para qualquer cultura, diz ele que temos que entendê-las e controlá-las, colocando-as no contexto de nossos propósitos humanos maiores.

É um livro de leitura “obrigatória” para engenheiros, professores de tecnologia e alunos – afinal, serão eles que enfrentarão o problema futuramente –, e não requer iniciação alguma em outro campo de conhecimento. Requer sim, um espírito desarmado para uma reflexão madura das consequências das ferramentas tecnológicas que todos nós estamos ajudando a conceber ou a perpetuar.

A seguir também disponibilizamos o material – inclusive o seminário – clique aqui – elaborado pelos alunos sobre o livro e outros dados do autor:

Neste livro, Postman descreve a forma como a tecnologia tem se relacionado com a cultura, desde a era em que era utilizada como ferramenta até o seu endeusamento nos dias atuais. A obra escrita em 1994 apresenta situações bem contemporâneas do século XXI ao destacar as características desse novo mundo, que Postman denomina de Tecnopólio.

O primeiro capítulo recua à antiguidade clássica pela lenda do encontro do rei Thamus com o inventor Teuth. Esta estória mostra-nos que os dilemas provocados pela tecnologia não são de agora e que é preciso assumir uma postura em relação a ela.

O autor americano traça a evolução da técnica e da tecnologia passando por diversos séculos e destacando a função de alguns instrumentos, como o estribo, o relógio mecânico e o telescópio na vida do ser humano. Caracteriza a sociedade das ferramentas, a tecnocracia e o tecnopólio.

Nesta nova era, chamada tecnopólio, Postman conceitua-a como sendo um mundo em que se perdeu o controle ao acesso às informações. Destaca também o papel relevante dos especialistas, da estatística e o poder da ciência para minar os valores sociais, qualquer fonte de moralidade e o sentido de certo e errado, tornando-se, essas tecnologias, os novos paradigmas e valores da sociedade.

Muito embora a técnica possa ter pressupostos benignos (e pergunta-se para quem o são), ela traz consigo uma mensagem inerente. Assim é o computador, cujo objetivo é facilitar a vida do homem, mas traz a mensagem de que ele pode pensar por nós, fazer o julgamento dos assuntos da vida humana baseado no cálculo estatístico, no saber do especialista, nas teorias da ciência. Ao homem cabe a obediência, ao comportamento maquinário de reproduzir a mensagem da técnica, que é desumanização.

O livro é uma fonte de reflexões para percebermos como estamos vivendo em um mundo sem valores e com uma cultura que se rendeu à tecnologia. Ao seu fim, Postman propõe um caminho de práticas para combatente desta nova era, tanto no aspecto individual, quanto no coletivo, o cultural. Para o primeiro, defende a criticidade e a reflexão quanto ao papel da pesquisa e da ciência e o resgate e manutenção dos valores sociais que a cada dia são mais esquecidos: o respeito à pessoa (e não à técnica), à família, à religião e às tradições. Para a mudança cultural, ressalta o poder da escola para a transmissão e reforço do tecnopólio, mas também para sua derrubada. Propõe, assim, uma revolução curricular, em que as escolas se ocupem do ensino de semântica (a busca dos significados do texto); da história comparada, como embate entre interesses diversos, bem como a história da técnica e a sua dominação humana; e da religião, sendo a escola não a defensora de uma crença, mas um espaço de debate da criatividade humana para descrever e explicar o mundo. O objetivo do ensino seria a humanização, a busca e a curiosidade pelo conhecimento.

Ainda de quebra, para nos ilustrar ainda mais sobre Postman outro livro do autor – clique aqui – foi comentado durante a realização do seminário:

Livro: Amusing ourselves to death, de Neil Postman

Lançado em 1985, neste livro Postman discorre sobre os efeitos da televisão na sociedade, a maneira como encaramos o mundo, o tipo de informações que recebemos pelas mídias e, não obstante, sobre as relações humanas.

Durante todo o livro, o autor traça um paralelo entre as obras “1984″, de George Orwell, e “Admirável mundo Novo”, de Aldous Huxley, que apresentam visões futuristas da vida humana em sociedade. Apesar da comparação das obras, a opinião de Postman se aproxima mais da visão de Huxley, pois o professor americano acredita que a sociedade pode encontrar em si seu maior inimigo à medida que encara toda informação como entretenimento – sem qualquer desdobramento, debate ou espanto.

Em 2009, o cartunista Stuart McMillen, inspirado pela leitura de Amusing Ourselves to Death, produziu uma série de tiras em quadrinhos que ilustravam as comparações das duas obras citadas no livro. Alguns destes quadrinhos encontram-se na apresentação de slides – clique aqui – que se segue e torna-se uma ótima oportunidade para se conhecer a essência dos dois livros, ou para aqueles que já os conhecem, refletirem sobre a comparação feita.

Tenham certeza que temos um excelente material para ser utilizado antes mesmo de partir para a leitura do livro

Walter Antonio Bazzo
maio de 2012


O ladrão no fim do mundo Joe Jackson. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 2011, 447 p.

O ladrão no fim do mundo
Joe Jackson
Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 2011, 447 p.

Alguns livros servem apenas para nos distrair ou para matar alguma curiosidade – foi o que me aconteceu quando li “O livro do Boni” [1], da Editora Casa das Palavras do Rio de Janeiro, com suas 463 páginas, presente que ganhei durante as férias – mas sempre trazem alguma questão que nos levam à reflexão. Este ao qual vou me referir agora é especial neste aspecto. Uma história de vida. Uma fábula da era moderna. O primeiro caso de biopirataria massiva na era moderna que mudaria o curso da História. O ladrão no fim do mundo é o relato do uso e abuso da natureza pelo homem na luta pela dominação mundial. Foi este aspecto que me trouxe a relatá-lo brevemente aqui neste nosso arquivo de leitura porque, como tantos outros, tem muito a ver com o entendimento de CTS através dos tempos.

Joe Jackson é autor de quatro livros de não-ficção e um romance. Foi repórter investigativo de Norfolk Virginian-pilot por 12 anos. Neste livro ele utiliza a vida conturbada de Henry para nos contar magistralmente o que ocorreu, principalmente no Brasil, com a perda do monopólio da borracha. Dentro desta descrição vemos porque a dependência dos países que sempre viveram de exportar produtos nativos e porque o atraso tecnológico com isso se configurou por tanto tempo.

Paralelo a este aspecto encontramos uma narração comovente sobre um homem e uma mulher – Henry e Violet – que, ao acreditarem no “patriotismo”, entregaram uma grande parcela da vida em defesa da coroa inglesa que, tanto na época como agora, praticavam verdadeiras piratarias em busca do poder. Suas histórias são enigmáticas, comoventes e, algumas situações, engraçadas. Mas, dentro dessa descrição, o autor nunca perdeu a seriedade de tratar um assunto que, indubitavelmente, ainda hoje reflete na configuração econômica da civilização humana.

Ford, Goodyear, Firestone, Thomas Edison, ainda que aparecendo superficialmente no livro, também fazem parte deste imbróglio que deixou homens e mulheres da Amazônia fascinados pelo luxo do início do século XX que ficou conhecido como a era da borracha. Tudo parecia perfeito e nada poderia estancar este movimento. Principalmente por estar Henry Ford envolvido nestes projetos. Mas qual o quê! Vejam estes trechos – fragmentos das páginas 332 e 333 –, já quase ao final do livro, que comprova este fracasso e serve também de amostragem da exuberância do restante do conteúdo desta magnifica narrativa dos inícios daquele século:

“Para muitos daquela época, este fim parecia impossível, tamanha era a aceitação do mito da invencibilidade de Ford. Em 1932, quando Ford ainda ousava sonhar com uma utopia amazônica, um jornalista alemão visitou Fordlândia. ‘Henry Ford ainda não viu fracassar nenhum de seus grandes planos’, escreveu ele. ‘Se este der certo, se as máquinas e os tratores conseguirem abrir uma brecha na grande muralha verde da selva amazônica, se Ford plantar milhões de seringueiras onde não havia nada a não ser a solidão da selva, então a história fantástica da borracha terá um novo e grande capítulo. Está começando uma luta nova e titânica entre a natureza e o homem moderno’. Os alemães tinham resistido ao embargo da borracha na Primeira Guerra Mundial e estavam fascinados pelos esforços mecanizados de ‘Heinrich Ford’, o industrial americano a quem Adolf Hitler mais admirava.”

Nesta descrição podemos notar que a luta titânica entre a natureza e o homem moderno tem origens remotas e se agrava a cada dia que passa. E também que no domínio tecnológico a questão política está presente como uma das variáveis inexoráveis da relação CTS.

Mas seguimos com um pouco mais desta parte do livro:

“Os países industrializados tinham acordado para o perigo estratégico da dependência de recursos naturais. Esta vulnerabilidade ‘ameaça não só o progresso sadio do mundo’, disse Herbert Hoover, ‘como contém em si grandes perigos à boa vontade internacional’. Muitos acreditavam que se fosse retido um recurso essencial, um estado-nação tinha o direito de chegar e tomá-lo para si. Os japoneses transformaram o argumento abstrato em estratégia quando entraram na guerra por recursos naturais: durante a Segunda Guerra Mundial tomaram dos ingleses os seringais de cultivo orientais.”

Estes trechos estanques, apesar de não manterem a fluidez da leitura, quando ela é feita como um todo, escancaram a selvagem luta pelo poder econômico. Para aqueles que sempre estão lendo nossas resenhas – ou dicas de livros, como queiram – dá para lembrar o livro de Noemi Klein contando estas questões em tempos mais recentes.

Encerrando esta provocação para a leitura vejamos mais este fragmento:

“O medo da biopirataria que hoje assombra o Brasil é um legado do sonho de Henry Wickham. Acredita-se que a floresta tropical amazônica abriga 40% de todas as espécies animais e vegetais da Terra, muitas ainda desconhecidas, enquanto madeireiros e fazendeiros desmatam a floresta a um ritmo de seis campos de futebol por minuto. Contudo, a procura por novas espécies – e o desenvolvimento de novos medicamentos a partir delas – é dificultada pela desconfiança entre os brasileiros de que a floresta tropical está repleta de biopiratas recolhendo amostras de folhas, sementes e sangue de animais. Thomas Lovejoy, o cientista americano a quem se atribui a divulgação mundial do desmatamento da Amazônia nos anos 1980, foi acusado de ser agente da CIA enquanto fazia pesquisas na floresta tropical para o Smithsoniam…”.

A descrição segue longe e com provocações infindáveis. A pergunta que faço, depois de “devorar” o livro em dois dias, se resume no seguinte: dá para discutir CTS sem ter, pelo menos superficialmente, conhecimento de todas estas variáveis? Creio que não. Este livro mostra isso, além de nos distrair com inúmeras passagens que nos leva da tristeza à alegria em ver que, apesar de tudo, o homem ainda pensa na sua sobrevivência e no respeito à natureza.

[1] Este livro também vale a pena ler. Traz uma visão interessante na história na comunicação do Brasil a partir da década de 1950 com o advento principalmente da televisão no país. E, quando vivemos na era que, para muitos, se traduz na era da informação e da comunicação, saber sobre isso também é importante.

Walter Antonio Bazzo
Março de 2012


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